30Abr

Uma diplomacia de aparência, uma dominação estrutural
Desde os anos 1990, a República Democrática do Congo vive uma crise estrutural frequentemente disfarçada sob o nome de “cooperação regional”. No entanto, o que o mundo chama de “acordos de paz” tem sido, para o povo congolês, uma sucessão de correntes diplomáticas e armadilhas estratégicas.

Assinaram-se muitos acordos. Mas poucos foram respeitados e menos ainda serviram verdadeiramente aos interesses da RDC.

Acordos de paz ou pactos de capitulação?

1. Acordos de Lusaka (1999)
Firmados para pôr fim à Segunda Guerra do Congo, estabeleceram um cessar-fogo entre a RDC e os países envolvidos no conflito, incluindo o Ruanda. No entanto, esses acordos tornaram-se rapidamente um escudo legal para a permanência de tropas estrangeiras em solo congolês, sob o pretexto de “segurança regional”.

2. Acordos de Pretória (2002)
Tinham como objetivo oficializar a retirada das tropas ruandesas do território congolês. Contudo, apesar dos compromissos formais, a presença ruandesa nunca cessou de fato. Ela continuou por outras vias: apoio a grupos armados, controle econômico de zonas mineiras estratégicas…

3. Acordo de Nairóbi (2007)
Criado para resolver o problema do CNDP, um movimento apoiado por Kigali. Paradoxalmente, permitiu a integração de elementos pró-ruandeses nas Forças Armadas da RDC (FARDC), comprometendo por dentro a soberania militar do país.

4. Acordo-quadro de Adis Abeba (2013)
Apoiado pela ONU e por várias potências estrangeiras incluindo os Estados Unidos , prometia o fim do grupo rebelde M23. Mais uma vez, os patrocinadores do acordo fracassaram (ou se recusaram) a impor sanções aos principais promotores da guerra, especialmente ao Ruanda.

O papel silencioso dos padrinhos estrangeiros: Washington, Londres, Bruxelas

Por trás de cada assinatura, está a presença discreta mas decisiva de diplomatas e representantes ocidentais, em particular norte-americanos. Apresentados como “facilitadores” ou “garantes”, atuaram muitas vezes como arquitetos de uma ordem geopolítica orientada por interesses estratégicos e minerais.

Sob o disfarce de combate ao terrorismo ou de estabilização regional, os EUA favoreceram uma presença duradoura da influência ruandesa no leste do Congo. O silêncio face às violações documentadas pelos relatórios da ONU revela uma cumplicidade antiga e profunda.

Uma paz sempre imposta de fora, nunca construída de dentro

Nenhum desses acordos foi fruto de um verdadeiro diálogo nacional congolês. Foram impostos por potências estrangeiras, assinados por elites afastadas das realidades do povo, e interpretados segundo os interesses de forças externas.

O resultado? Uma paz sem justiça. Uma estabilidade aparente que encobre um saque sistemático.

A hora do despertar político congolês

A análise dessa situação não pode mais se limitar a explicações “étnicas” ou “locais”. Trata-se de um sistema geopolítico de exploração, disfarçado de diplomacia, sustentado pelas grandes potências.

Hoje, a juventude congolesa, os intelectuais e as vozes livres começam a questionar essa arquitetura artificial de paz. E é essa consciência que representa uma verdadeira ameaça para os que lucram com esse caos programado.

Citação:
“Não se constrói a paz com acordos ditados de fora. A verdadeira soberania se reconstrói com a memória das feridas e com a vontade dos povos de nunca mais se traírem a si mesmos.”

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