14Mai

A liberdade que hoje experimentamos em muitos cantos da África foi escrita com sangue, suor e silêncio forçado nos cárceres. Não foi dada foi conquistada por líderes que, mesmo sem grandes títulos acadêmicos, possuíam um profundo senso de missão e coragem moral. E hoje, diante de um continente jovem, conectado, formado e tecnologicamente avançado, somos obrigados a perguntar: seremos capazes de fazer mais do que eles fizeram? Ou já estamos a falhar perante a história?

Líderes da luta: não pela glória, mas pela liberdade

Na maioria dos países africanos, a independência não foi fruto de concessão colonial, mas da persistência de líderes que enfrentaram perseguições, prisões e morte. Entre os mais notáveis, podemos destacar:

Nelson Mandela (África do Sul): preso durante 27 anos por combater o regime do apartheid. Saiu da prisão sem ódio, mas com uma proposta de reconciliação nacional. Sua luta foi por uma África do Sul multirracial e democrática.

Amílcar Cabral (Guiné-Bissau/Cabo Verde): intelectual e guerrilheiro. Lutou com ideias e armas, fundou o PAIGC e preparou o caminho para a independência com consciência revolucionária. Assassinado antes de ver seu país livre.

Agostinho Neto (Angola): poeta, médico e guerrilheiro. Passou anos preso pela PIDE portuguesa. Foi o primeiro presidente de Angola independente, símbolo da luta intelectual e armada.

Samora Machel (Moçambique): líder da FRELIMO, foi preso e perseguido. Comandou a luta armada até à independência em 1975. Morreu em circunstâncias suspeitas num acidente de avião.

Kwame Nkrumah (Gana): primeiro a conquistar a independência em 1957. Fundador do panafricanismo moderno, foi derrubado por um golpe militar patrocinado pelo Ocidente.

Patrice Lumumba (RDC): símbolo da independência congolesa, foi assassinado em 1961 com conivência de interesses estrangeiros e elites locais. Sua morte selou o fim de uma esperança africana precoce.

Esses homens não tiveram universidades europeias à sua disposição, nem internet, nem redes sociais. Mas tinham visão, coragem, disciplina e compromisso com o povo. E por isso escreveram seus nomes na eternidade africana.

A juventude de hoje: educada, mas conformada?

Hoje, muitos jovens africanos têm acesso a universidades, bolsas no exterior, redes digitais, informação em tempo real e oportunidades globais. No entanto, falta algo essencial: coragem histórica.
A juventude africana parece muitas vezes silenciosa diante da injustiça, passiva diante da opressão, distraída pelo entretenimento e manipulada por discursos vazios. Há exceções, é claro vozes que se erguem, lutas locais, ativistas corajosos mas ainda são poucos.

Ter acesso ao saber não é suficiente. É preciso ter consciência e responsabilidade.

O que nos cabe fazer hoje?

Recuperar a memória dos que lutaram para não permitir que a história se repita com novas formas de dominação;

Assumir o compromisso com as causas sociais, ecológicas, políticas e éticas do nosso tempo;

Ocupar os espaços com preparo, mas também com integridade porque diplomas sem ética nada mudam;

Unir-nos além das divisões étnicas, religiosas ou partidárias, como sonharam os líderes panafricanistas.

Reflexão final

Eles deram a vida para que fôssemos livres. E nós, o que estamos dispostos a sacrificar para que nossos filhos não tenham que lutar de novo pelo que já foi conquistado?
O futuro da África não será decidido apenas em parlamentos ou palácios. Ele será decidido também no silêncio dos quartos dos jovens que, entre a distração e o despertar, escolhem ser herdeiros da luta ou cúmplices do esquecimento.

Tags: