10Mai

A educação é o espelho de uma nação. E quando o espelho está rachado, o reflexo do futuro é turvo. Em Angola, o estado da educação é um grito silencioso que poucos dirigentes parecem escutar com seriedade. É hora de olhar com coragem, responsabilidade e verdade para o que estamos a oferecer às nossas crianças, aos nossos jovens, ao nosso povo.

1. Ensino primário: a base esquecida

O ensino primário, que deveria ser o alicerce do saber, está fragilizado por salas superlotadas, professores mal pagos e mal preparados, ausência de materiais didáticos e escolas sem mínimas condições de higiene e segurança.

Mesmo diante de projetos como o PIIM – Programa Integrado de Intervenção nos Municípios, que está a construir algumas escolas, o cenário é contraditório. Algumas estruturas novas já funcionam sem água, sem energia, e sem casas de banho dignas. Em várias comunidades, crianças são obrigadas a trazer de casa bidões de 5 litros de água para poderem usar a casa de banho.

Há escolas que existem apenas nos mapas, enquanto comunidades inteiras continuam a esperar uma estrutura mínima de dignidade. Outras, mesmo construídas, estão abandonadas pela fiscalização e pela manutenção do Estado.

Exemplo real: Escola Primária no 9055 Miguel Duzentos Francisco

Inaugurada em 29 de dezembro de 2022, por sua Excelência o Engenheiro Manuel Gomes da Conceição Homem, então governador da província de Luanda, esta escola – com cerca de oito salas de aula – já enfrenta uma grave crise de infraestrutura. Existe um tanque, mas não há água canalizada. Os alunos são obrigados a levar bidões de cinco litros todos os dias para poder usar a casa de banho.

Mais grave ainda: a cerca de três metros da escola existe uma ravina enorme, que já destruiu mais de quatro casas nas proximidades e agora ameaça diretamente a estrutura da escola. A comunidade alertou, o Estado tem conhecimento, mas até hoje não houve nenhuma resposta concreta.

Se essa ravina atingir a escola, todo o investimento será tragado pelo abandono, e a vida das crianças estará em perigo. Que tipo de Estado constrói, mas não protege?

2. Ensino secundário: a exclusão continua

O ensino secundário em Angola é marcado por desigualdade de acesso, falta de orientação pedagógica e abandono escolar elevado. Muitos adolescentes são forçados a abandonar os estudos por razões económicas, gravidez precoce ou simplesmente por desmotivação diante de um sistema que não inspira nem oferece horizontes.

3. Ensino universitário: elitizado e desconectado da realidade

O ensino superior angolano ainda é um privilégio. Muitas universidades carecem de laboratórios, bibliotecas, acesso à internet e de uma cultura de pesquisa séria. Os cursos estão frequentemente desatualizados e longe das realidades do mercado ou das comunidades locais.

Formam-se jovens com diplomas, mas sem ferramentas para transformar o país.

4. A hipocrisia da elite política

É moralmente inaceitável que os filhos da elite estudem em universidades estrangeiras ou privadas de luxo, enquanto o povo, que sustenta o país com os seus impostos e sacrifícios, vê os seus filhos a estudar em escolas onde nem sequer há casas de banho, nem uma torneira com água limpa.

Dirigentes, quem governa deve dar exemplo.

5. Educação não é gasto. É soberania.

Sem uma educação sólida, continuaremos dependentes, manipuláveis e submissos. A juventude será um fardo para o Estado, em vez de ser a força motriz do desenvolvimento.

Conclusão: educação é uma missão nacional

Este é um apelo direto aos governantes deste país: tomem conhecimento da realidade como ela é, não como vos é apresentada em relatórios forjados. Saiam dos gabinetes, visitem as escolas reais, conversem com os professores, com os pais, com os alunos.

Façam o vosso trabalho como deve ser feito. Façam-no com consciência. Façam-no com urgência.

A educação não pode continuar a ser tratada como um favor. Ela é um direito. E um país que negligencia a educação, está a enterrar o seu futuro com as próprias mãos.