09Mai

A sociedade civil o espelho da vitalidade democrtica de um pas. Onde ela forte, livre e independente, a democracia floresce. Onde frgil, manipulada ou silenciada, o autoritarismo ganha espao. Nos diferentes continentes, a histria recente mostra como a mobilizao cvica tem sido capaz de transformar naes, derrubar regimes, exigir justia e inspirar mudanas estruturais. nesta comparao que se revela a urgncia de fortalecer a nossa prpria sociedade civil.

Na Europa, movimentos como o Solidarno na Polnia, liderado por Lech Wasa, foram fundamentais para o colapso do regime comunista. Era um sindicato, uma organizao da sociedade civil, que galvanizou trabalhadores, intelectuais e o povo para pressionar o regime. Na Amrica Latina, organizaes como as Madres de Plaza de Mayo na Argentina enfrentaram uma ditadura sangrenta, exigindo verdade e justia pelos desaparecidos. Com persistncia, ajudaram a reconquistar a democracia.

Na sia, o movimento liderado por Aung San Suu Kyi na Birmnia (hoje Myanmar), embora com contradies posteriores, foi smbolo de resistncia civil. Na frica, a sociedade civil senegalesa um exemplo notvel: movimentos como o Yen a Marre, liderado por jovens artistas e ativistas, foram decisivos para impedir o terceiro mandato de Abdoulaye Wade. Na Tunsia, durante a Primavera rabe, sindicatos, advogados, defensores dos direitos humanos e associaes de mulheres formaram uma frente comum que no apenas derrubou uma ditadura, mas lanou bases para uma nova constituio.

E aqui, em Angola e em vrios pases da frica Central, o que vemos?

Uma sociedade civil fragmentada, muitas vezes silenciosa, cooptada por interesses polticos ou intimidada por leis e prticas autoritrias. Alguns grupos ditos “cvicos” funcionam como braos de partidos. Outros, por medo ou convenincia, preferem o silncio confrontao. O resultado o

enfraquecimento da presso social, a normalizao dos abusos, e o distanciamento do povo das decises que moldam o seu destino.

Mas isso pode e deve mudar. Precisamos de uma sociedade civil corajosa, unida e lcida, que saiba distinguir sua misso do jogo partidrio, que no tema levantar a voz diante das injustias, que forme a juventude para a cidadania e que esteja presente onde o Estado falha: nas periferias, nas escolas, nos hospitais, nas prises, nas aldeias esquecidas.

hora de recuperar a dignidade do papel cvico. Uma sociedade civil firme aquela que sabe dizer “no” aos abusos, que denuncia com dados, que mobiliza com responsabilidade, que forma opinio e que inspira ao coletiva. A verdadeira independência no vem de discursos inflamados, mas da capacidade de se organizar, persistir e construir alternativas.

Nenhuma democracia completa sem a fora de uma sociedade civil comprometida. Onde os partidos falham, a sociedade civil deve agir. Onde o Estado se cala, ela deve falar. E onde reina o medo, ela deve ser esperança.