No dia 8 de julho de 2025, o mundo observou com atenção a escalada de tensões entre o Brasil e os Estados Unidos, após declarações do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, com destaque para o café, um dos principais itens de exportação do Brasil para o mercado norte-americano.
À primeira vista, pode parecer apenas mais uma manobra protecionista. Mas, por trás dessa medida, há uma cadeia de fatores históricos, geopolíticos e ideológicos que revelam o verdadeiro pano de fundo de uma relação assimétrica entre Norte e Sul, entre um império em declínio e uma nação que tenta afirmar-se como ator independente no cenário global.
As origens: Trump e a nova guerra ideológica
Donald Trump, mesmo fora da presidência, continua a influenciar a agenda política dos Estados Unidos e de seus aliados no exterior. O atual atrito com o Brasil está diretamente ligado ao processo judicial enfrentado por Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro e aliado incondicional de Trump.
Durante seus mandatos, ambos representaram o que se convencionou chamar de “internacional do conservadorismo radical”: negacionismo climático e científico, ataques à imprensa, desprezo por organismos multilaterais e uso sistemático da polarização como instrumento de governo.
A amizade política entre Trump e Bolsonaro não era apenas retórica. Tratava-se de uma aliança estratégica, baseada em valores comuns e no desejo de construir uma nova ordem mundial, onde o nacionalismo econômico e o populismo autoritário tivessem protagonismo.
Com o retorno de Lula à presidência em 2023, com um discurso oposto ao de Bolsonaro, retomando o diálogo com o Sul Global, com os BRICS e com políticas ambientais firmes, o Brasil passou a ser novamente visto, por setores conservadores dos EUA, como um “obstáculo ideológico”.
O Brasil que irrita Washington
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva não esconde sua ambição de recolocar o Brasil como um ator independente no cenário internacional. Ao defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU, uma nova governança econômica global e ao estreitar relações com China, Rússia, Índia e África, Lula envia um recado claro: o Brasil já não aceita ser tutelado.
Essa postura incomoda setores norte-americanos ligados ao grande capital, que veem com desconfiança a formação de um eixo geopolítico alternativo aos interesses de Washington. E é nesse contexto que surge o ataque tarifário: uma tentativa de pressionar economicamente um governo soberano que resiste à obediência cega ao império.
O café como símbolo do conflito
O café brasileiro representa cerca de um terço do consumo dos Estados Unidos. Ao taxar esse produto em 50%, Trump atinge diretamente os pequenos e médios produtores do Brasil, mas também afeta o próprio mercado americano: o custo do café sobe, os importadores reagem e os consumidores pagam mais.
Não é a primeira vez que o comércio é usado como arma política. A novidade aqui é a forma como o Brasil respondeu. O presidente Lula declarou que, se necessário, aplicará medidas de reciprocidade contra produtos norte-americanos. Ou seja, o Brasil, que historicamente recuava diante da força, agora ameaça responder com firmeza.
Efeitos geopolíticos e económicos
Este episódio tem impactos que vão além da relação bilateral. Ele envia sinais claros:
1. Para a América Latina: um país do Sul pode se posicionar com dignidade diante de uma potência.
2. Para o BRICS e o Sul Global: a coerência diplomática tem um preço, mas também fortalece a autonomia.
3. Para o próprio povo brasileiro: a soberania nacional exige coragem política.
Além disso, acende um alerta: o mundo assiste ao colapso da hegemonia norte-americana tradicional, e novos polos de poder surgem — China, Rússia, Índia, Turquia e a própria América Latina em articulação crescente.
Conclusão: o valor da soberania em tempos de agressão
A crise atual entre o Brasil e os Estados Unidos não é apenas sobre tarifas. É reflexo de um confronto maior entre duas visões de mundo: uma que ainda acredita no domínio unipolar e outra que busca equilíbrio, respeito e cooperação multipolar.
O Brasil, neste momento, não deve recuar. Deve manter o diálogo diplomático, sim, mas sem renunciar à sua soberania econômica, política e moral. Os povos que não se dobram à pressão são os que constroem sua própria história com dignidade.
Este episódio servirá como lição: a soberania custa caro, mas a submissão custa a alma de uma nação.