02Jul

À medida que Angola se aproxima de mais um ciclo eleitoral, as fissuras no seio da oposição tornam-se cada vez mais visíveis. A esperança outrora depositada numa frente comum contra o sistema dominante transforma-se hoje numa sucessão de declarações contraditórias, jogos de bastidores e recuos estratégicos que deixam o povo perplexo. A disputa entre a UNITA e o PRA-JA Servir Angola, sobretudo em torno da Frente Patriótica Unida, expõe uma realidade dolorosa: a oposição está fragmentada, e o tempo não perdoa hesitações.

A ruptura velada que hoje se observa entre a UNITA e o PRA-JA não é apenas um desencontro de ideias ou de lideranças, mas o sintoma de um fracasso coletivo de maturidade política no seio da oposição angolana. Quando, em 2021, nasceu a Frente Patriótica Unida, muitos viam ali uma faísca de esperança para romper com décadas de hegemonia do MPLA. Contudo, essa frente, que deveria representar unidade estratégica, converteu-se, ao longo do tempo, numa arena de desconfianças, silêncios e disputas por protagonismo.

Recentes declarações públicas vindas de altos responsáveis do PRA-JA, como o seu secretário nacional, revelam claramente o distanciamento em relação à Frente Patriótica Unida, negando até a sua existência atual. Isso demonstra que o projeto perdeu não apenas força, mas também credibilidade entre os seus próprios fundadores. Tal posicionamento político reforça a perceção de que os acordos feitos no passado estão hoje diluídos na fragmentação das ambições pessoais.

Por sua vez, a UNITA, historicamente reconhecida como o principal rosto da oposição, parece agora isolada numa corrida que deveria ser plural, estratégica e centrada no povo. Abel Chivukuvuku, outrora símbolo de transição e união, vê-se envolto em contradições internas, cercado por uma geração que parece mais preocupada em marcar território do que em construir pontes de salvação nacional.

Neste cenário, o MPLA continua a ser o maior beneficiário. O partido no poder não precisa mover grandes esforços: basta observar, com calculado silêncio, a divisão da oposição, o esvaziamento de um discurso unificado e o desinteresse crescente da população. O povo, esse que é chamado de “patrão” apenas em tempo de campanha, assiste a tudo com uma mistura de fadiga cívica, desconfiança e resignação.

As lições do passado são evidentes. Em 2017, a oposição dividida permitiu ao MPLA renovar o poder com uma nova face, mas a mesma estrutura. Em 2022, apesar da mobilização popular e do discurso forte, a ausência de um bloco verdadeiramente coeso enfraqueceu qualquer hipótese real de alternância. Agora, em 2025, o país caminha novamente para a repetição de um ciclo vicioso: oposição fragmentada, povo desmobilizado e poder consolidado nas mãos de quem sempre soube explorar o medo e a divisão.

A juventude, que deveria ser a força transformadora do país, encontra-se dividida, polarizada nas redes sociais, anestesiada por discursos inflamados e desprovida de um projeto político que fale às suas necessidades reais. Faltam alianças estratégicas, faltam compromissos com o povo. Sobra ego. Sobra oportunismo. Sobra ambição desmedida.

É este mesmo sistema que, enquanto a oposição se fragmenta, autoriza aumentos de propinas em mais de 20%, num país onde os salários estão estagnados, onde os professores lutam com indignidade e onde as famílias se sacrificam diariamente para garantir educação aos seus filhos. O povo sofre. E sofre em silêncio.

Por isso, é hora de dizer a verdade com clareza:
Nenhuma dessas disputas internas vai tirar Angola da crise.
Nenhuma rivalidade entre líderes vai acabar com a corrupção ou devolver esperança aos angolanos.
Essas lutas políticas não vão mudar a vida de quem está a vender nas ruas, de quem está sem água, sem luz, sem salário.
Pelo contrário, beneficiam o sistema que todos juram combater.

À juventude angolana, que é a espinha dorsal da Nação, deixo este apelo: não vos deixeis usar como massa de manobra de projetos vazios ou agendas pessoais. Angola não precisa de seguidores cegos, mas de consciências lúcidas, preparadas para pensar, questionar e agir com firmeza moral. Exigir responsabilidade dos líderes não é ser rebelde é ser cidadão.

À sociedade civil, que tem assistido a tudo com cansaço, digo: este não é momento de se esconder atrás do medo. É tempo de fiscalizar, de denunciar, de construir. Não se muda um país com ressentimento, mas também não se constrói democracia com silêncio cúmplice.

Aos partidos da oposição, grandes ou emergentes, este é um momento decisivo. Ou se deixam consumir pelas vaidades que os têm enfraquecido, ou se levantam como alternativa real e responsável. O povo está atento. A história não perdoa omissões.

Neste contexto, precisamos falar de patriotismo verdadeiro.
Não aquele das bandeiras agitadas apenas em época de campanha, mas aquele que resiste dentro da alma, mesmo quando ninguém está a olhar.

O verdadeiro patriota é um guardião silencioso da sua Nação.
É aquele que carrega o país como se carregasse um ovo entre as mãos frágil, precioso, insubstituível.
Esse ovo chama-se Angola. E ele não pode cair, não pode rachar, não pode ser destruído pela ganância de poucos ou pela indiferença de muitos.

Todos nós somos apelados ao patriotismo.
E esse apelo é um chamado nobre. Ser patriota é cuidar do país mesmo quando dói.
É denunciar o que está mal sem perder o respeito.
É proteger, educar, resistir, servir e despertar consciências.

Não levemos este momento com sentimentalismo nem com raiva mas também não o tratemos com ingenuidade.
Angola atravessa uma encruzilhada grave.
Ou despertamos agora… ou perderemos mais uma geração inteira.