Em tempos de manipulação constitucional e perpetuação do poder, a decisão do presidente do Benim ressoa como uma exceção ética no continente africano
Enquanto muitos líderes africanos tentam modificar constituições, eliminar limites de mandatos ou perpetuar-se no poder sob justificativas frágeis, o presidente do Benim, Patrice Talon, renunciou publicamente à possibilidade de disputar um terceiro mandato presidencial. Uma decisão que chama atenção não apenas pelo que representa politicamente, mas sobretudo pelo que diz sobre a relação entre poder, ética e compromisso com a democracia.
Um gesto político raro
Em declarações recentes, Talon reafirmou a sua promessa feita em 2016:
> “A alternância no poder é uma condição essencial da democracia. Governar não é um direito vitalício.”
O presidente beninense, que já havia sido criticado por reformas consideradas autoritárias em seu primeiro mandato, parece agora cumprir uma promessa rara entre chefes de Estado africanos: não disputar o poder indefinidamente.
Ao não se candidatar a um terceiro mandato em 2026, Talon rompe com a tendência de líderes como Paul Kagame (Ruanda), Yoweri Museveni (Uganda), Alassane Ouattara (Costa do Marfim) e outros, que modificaram ou reinterpretaram as constituições nacionais para continuar no poder.
Um gesto simbólico, mas suficiente?
Apesar do valor simbólico, analistas recordam que Talon enfrentou críticas graves no passado, com denúncias de:
- Repressão a opositores;
- Limitação ao espaço cívico e à liberdade de imprensa;
- Controle excessivo do Judiciário e do sistema eleitoral.
Assim, para muitos, o anúncio não apaga os problemas do seu governojustify mas abre uma brecha importante para uma cultura de alternância e responsabilidade política.
O que está em jogo não é apenas Talon é a mensagem que o gesto envia aos demais líderes africanos.
Por que esse gesto é importante?
A recusa de um terceiro mandato não é apenas um detalhe administrativo. Num continente onde:
A alternância é tratada como ameaça,
A Constituição é frequentemente manipulada,
A juventude perde a confiança nas instituições,…
gestos como o de Patrice Talon recolocam a legitimidade no centro da política.
É também uma forma de dizer à juventude africana: “o poder não é propriedade privada”. E isso tem impacto direto sobre a construção de democracias resilientes, a cultura de cidadania e a normalização de lideranças temporárias, e não eternas.
Reflexão final
A renúncia de Patrice Talon a um terceiro mandato não o canoniza como herói mas aponta para uma prática política que precisa urgentemente de se multiplicar em África.
Mais do que promessas, a juventude africana precisa de líderes que saibam partir quando chega a hora, respeitar limites e deixar espaço para renovação.
Se a democracia africana quiser florescer, será preciso mais gestos como esse não como exceções, mas como regra de ética pública.