A travessia da esperança que termina em desespero crise migratória expõe o abandono humano no Corno de África
Ao amanhecer de 14 de junho de 2025, uma nova tragédia se abateu sobre as rotas migratórias da África Oriental. Oito pessoas morreram e pelo menos 22 estão desaparecidas após tentarem atravessar o Golfo de Áden em direção ao Iémen, partindo clandestinamente da costa da Djibouti um dos países que se tornou rota obrigatória para migrantes vindos da Etiópia, Somália e Eritreia.
O barco, sobrecarregado, foi abandonado em alto-mar por traficantes que forçaram os migrantes a lançarem-se ao mar e nadarem até a costa. Muitos não sabiam nadar e foram tragados pelas correntes. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) mobilizou operações de busca e identificou corpos nas praias da vila de Obock, zona frequentemente usada para embarques irregulares.
As causas da fuga: pobreza, guerra e desespero
Segundo a OIM, mais de 90 mil migrantes cruzaram esta rota no último ano, muitos fugindo de:
Conflitos armados internos, como os da Etiópia e Somália;
Perseguições étnicas ou religiosas;
Crises climáticas, como a seca extrema que afeta o Chifre da África;
Falta de oportunidades económicas.
A promessa de chegar à Península Arábica, onde tentam encontrar trabalho ou prosseguir para a Europa, leva muitos a arriscar a vida por rotas controladas por redes de tráfico humano, que operam com total impunidade.
O silêncio do mundo e a repetição do horror
Essa não é a primeira vez que migrantes morrem nesta travessia. Desde 2020, centenas já perderam a vida entre a Djibouti e o Iémen uma das rotas mais invisíveis e menos documentadas do mundo, apesar de seu nível de brutalidade. Em muitos casos, os sobreviventes relatam abusos físicos, exploração sexual, extorsões e fome.
Apesar disso, a cobertura internacional é mínima e a resposta institucional quase inexistente. A ausência de políticas humanitárias regionais eficazes contribui para a continuidade do ciclo de fuga e morte.
Apelo à responsabilidade africana e internacional
A tragédia na Djibouti deve servir como chamado à ação dos governos africanos, organizações regionais e instituições globais. A solução não virá apenas com patrulhas marítimas, mas com:
Criação de oportunidades locais para a juventude africana;
Combate real às redes de tráfico de pessoas;
Canais legais e seguros de migração;
Apoio humanitário nos territórios de origem.
O continente não pode continuar a exportar sua juventude ao desespero, enquanto potências mundiais fecham os olhos para as causas que incentivam o êxodo.
Reflexão final
A costa da Djibouti guarda mais do que corpos sem nome: guarda os sonhos afogados de uma juventude africana sem horizonte. Quando uma travessia se torna sentença de morte, estamos diante não apenas de uma crise migratória, mas de uma tragédia moral coletiva.