17Jun

A reconfiguração das alianças globais: Vladimir Putin e Kim Jong-un firmam acordo militar e diplomático que desafia a ordem ocidental

A visita do presidente russo Vladimir Putin à Coreia do Norte em junho de 2025 marca um ponto de viragem nas relações entre Moscovo e Pyongyang e possivelmente no próprio equilíbrio geopolítico da Ásia e do mundo. A recepção cerimonial de Kim Jong-un, acompanhada de desfiles, bandeiras e declarações de lealdade, não foi apenas simbólica: resultou na assinatura de um tratado de parceria estratégica abrangente, com implicações militares, tecnológicas e diplomáticas.

O acordo surge num contexto em que a Rússia se encontra em confronto prolongado com o Ocidente, devido à guerra na Ucrânia, e sob forte pressão de sanções internacionais. Para Putin, fortalecer alianças fora do eixo euro-atlântico tornou-se não apenas estratégico, mas necessário. Para Kim Jong-un, isolar-se deixou de ser uma escolha e Moscovo aparece como um dos poucos parceiros de peso dispostos a oferecer cooperação militar e reconhecimento político.

Conteúdo do pacto estratégico

Segundo comunicados conjuntos e reportagens de agências internacionais, o tratado inclui:

Cláusula de defesa mútua: Em caso de agressão contra um dos países, o outro deverá prestar assistência militar imediata;

Transferência de tecnologias militares e energéticas: Especialmente nos setores espacial, nuclear e de inteligência;

Alinhamento diplomático em instâncias internacionais: Incluindo votações na ONU e apoio mútuo frente a resoluções ocidentais.

Este acordo é o mais significativo entre os dois países desde a era soviética, quando Moscovo era o principal patrono de Pyongyang durante a Guerra Fria.

O que está em jogo?

Para a Rússia, trata-se de consolidar uma nova frente diplomática na Ásia, reforçando o eixo Moscovo–Pequim–Pyongyang como contrapeso à influência dos EUA e seus aliados na região do Indo-Pacífico. Para a Coreia do Norte, significa romper com o isolamento, obtendo ajuda militar e política de uma potência nuclear que enfrenta, como ela, sanções internacionais.

O Ocidente vê o acordo com extrema preocupação. A Casa Branca emitiu uma nota classificando a aproximação como uma “grave ameaça à estabilidade regional e um incentivo à militarização do Pacífico”. Japão e Coreia do Sul intensificaram sua cooperação de defesa em resposta.

Por outro lado, a China, tradicional aliada da Coreia do Norte, mantém uma postura cautelosa. Pequim parece observar com interesse, mas também com reservas, esse novo eixo bilateral, que pode alterar dinâmicas regionais onde a China prefere manter hegemonia isolada.

Uma nova guerra fria?

Para muitos analistas, o pacto marca o retorno oficial das alianças bilaterais antiocidentais, típicas da Guerra Fria. A diferença é que agora não se trata apenas de ideologias opostas, mas de estratégias pragmáticas de sobrevivência e reposicionamento internacional. Rússia e Coreia do Norte, ambos alvos de sanções, buscam legitimidade, proteção e influência em um mundo cada vez mais fragmentado.

A reedição de pactos de defesa mútua entre potências marginalizadas pelo Ocidente indica que o mundo já não se move unicamente sob o eixo Washington–Bruxelas. O século XXI está, cada vez mais, a ser escrito por alianças alternativas, muitas vezes desconfortáveis, mas funcionalmente estratégicas.

Reflexão final

A visita de Putin a Kim Jong-un e o tratado assinado não são apenas gestos de diplomacia. São sinais claros de um mundo em transição, onde as potências isoladas constroem seus próprios eixos de poder. Resta saber se o mundo assistirá a um novo equilíbrio multipolar… ou ao ressurgimento de blocos em rota de colisão.