No dia 15 de junho de 2025, ativistas e residentes em cidades como Barcelona, Lisboa, Maiorca e Veneza realizarão protestos públicos contra o excesso de turismo, munidos de pistolas d’água, cartazes e palavras de ordem que alertam para um problema crescente: a “turistificação”.
Mas o que está realmente em causa? Como explicar que, em lugares historicamente abertos ao mundo, a presença de turistas esteja agora a ser vista como uma ameaça à vida local?
Quando o turismo deixa de ser bem-vindo
O turismo, que sempre foi promovido como motor de desenvolvimento e revitalização cultural, está a ser contestado por moradores locais que se dizem sufocados:
- pelo aumento desenfreado dos preços dos aluguéis e da habitação;
- pela transformação dos bairros tradicionais em zonas comerciais efêmeras, voltadas exclusivamente para estrangeiros;
- pela perda de identidade e qualidade de vida com ruas lotadas, barulho constante, degradação ambiental e exploração laboral.
Em Lisboa, por exemplo, o centro histórico tornou-se praticamente inacessível para os próprios lisboetas. Em Barcelona, há bairros inteiros onde quase não se ouve catalão apenas inglês, alemão e francês.
A turistificação como fenômeno sociopolítico
O que acontece na Europa não é apenas um incômodo local: é reflexo de um modelo de urbanismo baseado no lucro imediato e na privatização dos espaços públicos.
O turismo de massa tornou-se, em muitos casos, uma forma de gentrificação internacional, onde os cidadãos locais perdem voz e lugar para investidores globais que exploram a cidade como um produto.
Questões para reflexão:
1. O turismo serve ao povo ou aos negócios?
2. Quem regula o crescimento turístico e a especulação imobiliária?
3. É possível desenvolver um turismo sustentável e justo?
Estas perguntas não são apenas europeias.
Cidades africanas como Luanda, Cidade do Cabo ou Dakar também começam a enfrentar os primeiros sinais deste modelo invasivo: zonas costeiras privatizadas, hotéis de luxo onde antes havia comunidades, e a exclusão dos habitantes nativos dos seus próprios espaços.
Considerações finais:
O protesto contra o turismo de massa não é contra o estrangeiro.
É contra a lógica mercantilizada da cidade que transforma tudo em lucro até a dignidade de quem vive nela.
O que está em causa é o direito à cidade.
É possível receber o mundo sem perder a alma local mas isso exige políticas públicas, consciência coletiva e um novo modelo de relação entre quem visita e quem vive.