09Jun

Durante a sua recente visita à província do Moxico, o Presidente da República, João Lourenço, declarou que “toda a ação do Executivo está orientada para o bem-estar do povo, especialmente na região leste do país.”

Uma frase forte, carregada de simbolismo político, mas que merece ser analisada à luz dos factos, das realidades locais e da memória coletiva de promessas ainda não cumpridas.

Contexto da região leste

As províncias do leste angolano Moxico, Lunda Norte e Lunda Sul são, há décadas, regiões marcadas por:

  • altos índices de pobreza multidimensional;
  • dificuldades no acesso a serviços públicos essenciais, como saúde, água potável, saneamento e energia;
  • isolamento estrutural, devido à falta de infraestruturas viárias e ferroviárias eficazes;
  • e uma juventude cada vez mais desiludida, sem oportunidades reais de emprego ou formação.
– O discurso presidencial: promessas renovadas?

A declaração de que “toda a ação do Executivo está orientada para o bem-estar do povo” ganha um tom de reforço simbólico mas também levanta questões legítimas:

1. Quais medidas concretas foram adotadas nos últimos anos com impacto mensurável no leste?

2. Por que razão a região continua entre as mais negligenciadas, apesar da sua riqueza natural e importância estratégica?

3. Qual é o plano de execução? Existe orçamento? Há cronograma público? Ou trata-se apenas de mais uma promessa sem base operacional visível

– Preocupações legítimas

Risco de discurso político desconectado da realidade: A repetição de promessas não acompanhadas por ações pode gerar apatia social e perda de credibilidade institucional.

Déficit de transparência: Pouco se sabe sobre os critérios de investimentos nas províncias do leste, o que favorece a centralização das decisões e a ausência de prestação de contas.
Desigualdade regional acentuada: A insistência em priorizar investimentos em Luanda e Benguela aprofunda o sentimento de marginalização de outras regiões.

– Considerações finais

O discurso presidencial em Moxico precisa ser lido não como um fim em si, mas como um convite à vigilância cívica.

Mais do que palavras, o povo do leste espera ações concretas, estruturais e sustentáveis.
A governação moderna exige mais do que promessas: exige planeamento, execução e fiscalização com participação cidadã.

O bem-estar do povo começa quando o povo deixa de ser espectador e passa a ser ouvido, respeitado e incluído.

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