Introdução: quando a juventude africana parte em silêncio
Milhares de jovens africanos continuam a abandonar os seus países todos os anos. Não partem por luxo. Não partem por aventura. Partem porque ficar se tornou insuportável.
Atravessam desertos, mares e fronteiras hostis em busca de dignidade, trabalho, estudo, segurança – ou simplesmente esperança.
A imigração africana tornou-se o espelho de um continente rico em potencial, mas pobre em oportunidades estruturadas.
Partir é resistir: o corpo como passaporte e denúncia
O jovem que atravessa o Saara, que embarca numa piroga rumo à Europa, que se esconde nos porões da fronteira sul-americana, leva mais do que uma mochila: carrega o grito abafado de toda uma geração.
Cada partida é uma denúncia silenciosa contra:
– Estados que falharam em criar empregos;
– Sistemas de ensino que não preparam para o mundo real;
– Elites políticas que se perpetuam no poder;
– Economias que crescem sem distribuir justiça.
Imigrar, para muitos, é a única forma de viver – e, paradoxalmente, de não morrer por dentro.
A política da migração: entre rejeição e exploração
Os países do Norte, que historicamente exploraram África, hoje constroem muros físicos e simbólicos para conter os filhos do continente que ajudaram a pilhar.
– Criminalizam migrantes;
– Impõem vistos quase impossíveis;
– Subordinam acordos de cooperação à contenção de migração;
– Mas aceitam os africanos como mão de obra barata e descartável.
O corpo negro migrante é rejeitado no discurso, mas explorado na prática. Essa contradição revela o cinismo das potências ocidentais e a hipocrisia de uma ordem global desigual.
O futuro da juventude não pode estar em fuga eterna
A imigração, por si só, não é um problema. É um direito humano.
Mas quando se torna a única saída para viver com dignidade, ela revela a falência de políticas públicas internas e de justiça internacional.
O futuro de África não pode continuar fora das suas fronteiras.
É preciso reconstruir o sonho possível dentro do próprio continente:
– Educação transformadora e conectada à realidade;
– Inovação tecnológica aplicada à vida local;
– Agricultura moderna, soberania alimentar e inclusão digital;
– Juventude com espaço na política e nas decisões do país.
A fuga não pode ser o sonho. O sonho precisa ser ficar e prosperar.
Conclusão: imigrar é humano, resistir é africano
Não podemos continuar a perder os melhores filhos do continente em barcos invisíveis, valas anônimas e prisões migratórias.
A juventude africana não quer apenas escapar ela quer viver com dignidade.
Imigração como direito? Sim.
Imigração como imposição? Jamais.
É hora de transformar o desespero em coragem e a coragem em reconstrução.
Frase de encerramento:
Quando a juventude parte sem promessas, é sinal de que o país ficou sem rumo.
Sempa Sebastião