A crise energética continua a ser um dos maiores desafios estruturais do continente africano. Apesar dos avanços em energias renováveis, mais de 60 milhões de africanos permanecem sem acesso confiável à eletricidade, segundo dados recentes de organismos regionais e internacionais.
Atualmente, cerca de 50% da eletricidade consumida em África já provém de fontes renováveis, como energia hídrica, solar e eólica. Essa marca coloca o continente entre os líderes mundiais em transição energética. No entanto, o potencial africano ainda está longe de ser plenamente aproveitado. A maior barreira encontra-se na infraestrutura envelhecida, nas redes de distribuição obsoletas e na falta de investimentos consistentes em manutenção e expansão.
Em países como a Nigéria, a maior economia da África, apagões são diários, afetando tanto famílias como grandes indústrias. Já em regiões rurais do Moçambique e do Mali, milhões de pessoas dependem de geradores a diesel ou vivem completamente sem acesso à rede elétrica. Essa realidade compromete setores estratégicos, desde a educação – escolas sem energia para laboratórios e tecnologia – até a saúde – hospitais que funcionam com falhas elétricas constantes.
Segundo especialistas, o crescimento populacional acelerado também pressiona os sistemas energéticos. A população africana deverá ultrapassar 1,5 bilhão até 2030, aumentando ainda mais a demanda por energia. Sem soluções estruturais, o risco é de aprofundar desigualdades sociais e travar o desenvolvimento econômico.
Apesar do cenário preocupante, há iniciativas encorajadoras. Projetos como a Grande Barragem da Etiópia, investimentos em parques solares no deserto do Saara e parcerias internacionais em energia eólica têm mostrado resultados positivos. Organizações multilaterais, como o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), defendem que o futuro energético do continente depende de três pilares: modernização das infraestruturas, diversificação das fontes e cooperação regional.
“África tem sol, vento, rios e até reservas de gás natural para fazer a ponte energética. O que falta é vontade política e investimento contínuo para transformar esse potencial em realidade”, declarou um especialista do BAD em entrevista recente.
A energia é hoje vista não apenas como uma necessidade básica, mas como um pilar para o desenvolvimento industrial, digital e agrícola da África. Enquanto milhões continuam no escuro, o debate sobre soluções ganha cada vez mais urgência nos corredores políticos e económicos do continente.