10Jun

Na noite de ontem, o Presidente da República, João Lourenço, concedeu uma entrevista à Televisão Pública de Angola (TPA), abordando questões centrais da governação: economia, combate à corrupção, reforma eleitoral e desafios sociais.

O gesto de aparecer publicamente para esclarecer temas nacionais é sempre saudável numa democracia. No entanto, ao analisar o conteúdo com espírito crítico, percebe-se que a entrevista ficou marcada mais por declarações de reafirmação do que por propostas concretas, factos mensuráveis ou compromissos específicos.

1. Economia: discurso de esperança, mas sem dados

O Presidente destacou a intenção do Executivo de estimular a economia através do investimento estrangeiro e da diversificação da produção nacional. Falou-se de cooperação internacional e de atratividade do país para o investimento.

Contudo, não foram apresentados indicadores concretos que demonstrem a eficácia das políticas em curso. Nenhuma meta foi mencionada. Nenhum dado sobre crescimento real, geração de empregos ou redução da pobreza foi citado.

O que falta: Dados comparativos, números atuais, metas claras e medidas objetivas que mostrem que o discurso se reflete em ação visível para o cidadão comum.

2. Corrupção: entre a intenção e a realidade

João Lourenço reafirmou que o combate à corrupção continua a ser uma das prioridades do seu mandato. Citou ações em curso, processos abertos e iniciativas institucionais.

No entanto, o discurso foi genérico. Não se falou de quantos casos foram concluídos com condenações, nem de valores efetivamente recuperados para o Estado.

Fica a dúvida: O combate à corrupção está a produzir resultados sustentáveis ou apenas alimentar uma narrativa que não chega ao fim dos processos?

3. Reforma eleitoral: o que está em jogo?

A entrevista abordou a necessidade de reformas no sistema eleitoral. No entanto, o Presidente limitou-se a mencionar leis em análise e o desejo de garantir um processo mais justo.

Faltou indicar como a sociedade civil e os partidos da oposição serão envolvidos, quais mudanças concretas estão previstas, e quando as reformas serão concluídas. A transparência nesse tema é vital para garantir a confiança no processo democrático.

4. Forma e conteúdo: entrevista ou monólogo preparado?

A entrevista pareceu cuidadosamente preparada. As perguntas foram lidas, o ambiente foi controlado, e faltou espaço para confronto ou questionamentos mais desafiadores.

O formato não permitiu que a população visse o Presidente responder em tempo real a situações imprevistas, críticas ou números desconfortáveis.

Resultado: A entrevista serviu mais à imagem presidencial do que à prestação de contas. Faltou espírito de debate democrático.

Conclusão

A presença do Presidente nos meios de comunicação é sempre bem-vinda. Mas, numa Angola que enfrenta desafios sociais, económicos e institucionais profundos, o país precisa mais do que palavras bem articuladas. Precisa de compromissos mensuráveis e coragem para se expor ao contraditório.

O povo já ouviu muitas promessas.
Agora quer ver ações concretas, resultados transparentes e abertura real ao diálogo.

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