29Mai

Num continente marcado por lutas historicas contra o colonialismo, a nova forma de dominacao ja nao vem de fora nasce do proprio sistema. A repressao a imprensa e hoje uma das formas mais eficazes de perpetuar o poder, distorcer a realidade e manter populacoes inteiras na escuridao da ignorancia.

Se na tribuna anterior denunciei o tratamento violento dado aos jornalistas africanos, aqui aprofundo a dimensao estrategica dessa repressao: a guerra pela hegemonia da informacao. Uma guerra silenciosa, muitas vezes invisivel, mas devastadora para a democracia e a consciencia popular.

1. Jornalistas ou inimigos de Estado?

A desconfianca do poder em relacao ao jornalismo livre nao e acidental. Em muitos paises africanos, o jornalista que investiga corrupcao, questiona politicas publicas ou da voz a vitimas e imediatamente rotulado como opositor ou infiltrado. Nao ha espaco para o jornalismo critico num sistema que vive da ocultacao. Quem controla a versao dos fatos, controla a legitimidade do poder. E quem desafia essa versao, torna-se um alvo a abater.

2. A repressao tem multiplos rostos: uma comparacao continental

Eritreia Prisao prolongada sem julgamento (Dawit Isaak, preso desde 2001) Egito Censura digital e condenacoes por terrorismo (Alaa Abdel-Fattah) Uganda Bloqueio da internet e agressoes fisicas (eleicoes de 2021)
RDC Intimidacao e vigilancia estatal (Patient Ligodi, detido em Goma) Senegal Prisoes e perseguicao judicial (Pape Ale Niang)

Angola Censura economica e processos civeis (Rafael Marques)

3. A nova repressao: matar com silencio, censurar com algoritmo

Hoje, a censura ja nao precisa de prisoes. Ela atua com leis ambiguas, suspensoes administrativas, campanhas digitais e pressoes economicas. E a guerra do algoritmo: invisivel, mas mortal.

4. A cumplicidade das elites e do silencio institucional

A repressao e sustentada por elites caladas, orgaos de classe fracos e cidadaos habituados a censura. Enquanto isso, muitos meios sao comprados com contratos, cargos ou promessas.

5. O despertar silencioso: jornalistas e jovens como resistencia

Surgem novos meios e redes: The Elephant, Maka Angola, AfricTivistes, Voja24. Jovens jornalistas desafiam o sistema com microfones baratos, mas verdades caras.

6. A imprensa como frente de libertacao contemporanea

A imprensa africana, quando livre e comprometida, torna-se o novo movimento de libertacao. Nao ha soberania sem informacao livre, nem desenvolvimento sem jornalismo critico.

Conclusao: entre o silencio e o grito, o jornalista escolhe o lado da memoria

O jornalismo em Africa vive um dilema: ser cúmplice do poder ou instrumento do povo?
Enquanto a imprensa livre for considerada uma ameaça, e sinal de que ainda ha verdade a ser dita. E essa verdade, mesmo quando silenciada, continuara a ecoar nas consciencias que não se vendem.

Sempa Sebastiao

Jornalista independente

Do silencio nasce a luz