1. Durante a minha presença em Paris
Durante a minha presença em Paris, onde participei na Cimeira da Saúde Europa-África, tive a oportunidade de me encontrar com vários irmãos angolanos residentes aqui em França. Em diferentes momentos, alguns aproximaram-se de mim não por acaso, mas movidos por dor e necessidade.
Falaram comigo como se fala com alguém de confiança. Falaram como se estivessem à espera de alguém que os ouvisse.
E eu ouvi.
Ouvi com atenção. Dei-lhes tempo. E, mais importante: dei-lhes escuta.
Não se tratou de um encontro político, nem de uma entrevista formal. Foi um gesto humano.
E o que ouvi foi profundo: angolanos cansados, angustiados, desorientados e desamparados.
2. As queixas e as dores da comunidade
O motivo principal? As dificuldades constantes na Embaixada de Angola em França para tratar documentos básicos, como:
Renovação do cartão consular;
Declarações de nacionalidade;
Reemissão de passaportes;
Apoio para regressar ao país, no caso de quem perdeu o titre de séjour (título de residência);
E, em muitos casos, falta de orientação mínima e de acolhimento respeitoso.
Relatos de pessoas que estão há meses a tentar resolver simples processos.
Pessoas que choram, que voltam para casa de mãos vazias depois de filas e esperas.
Pessoas que vivem um sentimento profundo de abandono institucional.
3. Um apelo que não é acusação, mas um dever de consciência
O que trago aqui não é um ataque.
Não é uma denúncia vazia.
É um apelo com base em testemunhos reais, feitos por cidadãos que pediram, inclusive, para que seus nomes não fossem mencionados, por receio de represálias ou constrangimentos futuros.
Falaram comigo com confiança e esperança. Esperança de que alguém, ao menos, escrevesse.
E aqui estou a cumprir o papel do jornalista: ouvir onde ninguém quer escutar, e falar onde muitos se calam.
4. A função da embaixada não é decorar o país, é proteger o seu povo
A Embaixada de Angola em França é uma extensão do Estado.
Não é apenas uma representação política ou diplomática – é uma casa do povo angolano no exterior.
Logo, o seu dever é servir, proteger e orientar os cidadãos, especialmente aqueles que se encontram em situações frágeis ou de risco legal e humanitário.
Um cartão consular não é apenas um papel – é dignidade.
Um atendimento claro não é apenas protocolo é respeito.
5. O que pedimos às autoridades
Pedimos que olhem com mais seriedade para a situação dos angolanos na diáspora, sobretudo aqui em França.
Pedimos que haja:
Melhoria no funcionamento dos serviços consulares;
Clareza nos procedimentos;
Atendimento humano e acessível;
Abertura de canais reais de escuta e apoio;
E, acima de tudo, respeito institucional por quem representa a bandeira fora da pátria.
6. Conclusão: o silêncio do povo e o peso do Estado
É duro ver cidadãos a sofrer por algo que é seu por direito.
É doloroso saber que, muitas vezes, quem está longe da pátria sofre mais por parte da própria pátria do que dos estrangeiros.
Nenhum cidadão deve ser deixado para trás muito menos fora da sua pátria.
Que esta tribuna seja recebida com espírito de responsabilidade.
Não para julgar, mas para despertar.
Não para ofender, mas para corrigir.
Porque uma Angola justa começa também pelo modo como cuida dos seus filhos onde quer que eles estejam.