Jornalista independente | Embaixador oficial da Cimeira da Saúde Europa-África 2025 a partir de Angola
Unidos por uma causa vital
No dia 26 de maio de 2025, tive a honra e a responsabilidade de representar Angola como embaixador oficial na primeira edição da Cimeira da Saúde Europa-África, realizada no prestigiado Senado francês, em Paris.
Trata-se de um evento histórico que uniu dois continentes separados por oceanos, mas ligados por desafios comuns e por uma causa universal: a defesa do direito à saúde para todos os povos.
Nesta ocasião, participaram autoridades governamentais, especialistas em saúde pública, investigadores, organizações da sociedade civil, jornalistas, médicos, juristas e líderes comunitários que, juntos, lançaram uma nova plataforma de cooperação multilateral, centrada na dignidade humana e no acesso justo à saúde.
Uma cimeira para pensar o futuro sanitário entre os continentes
Organizada pela associação Ndona Charity, com o apoio político do Parlamento Europeu e o patrocínio da senadora Sophie Briante Guillemont, a cimeira foi guiada pelo lema:
Unir esforços por uma saúde acessível a todos.
Este lema não foi apenas simbólico. Refletiu o espírito de compromisso e a urgência de ações práticas. O encontro promoveu quatro mesas-redondas temáticas, com diagnósticos claros e propostas ousadas:
1. Prevenção das doenças cardiovasculares e neurovasculares
Essas patologias, que figuram entre as maiores causas de morte no mundo, exigem atenção redobrada em África, onde o acesso à prevenção e ao diagnóstico precoce ainda é limitado.
A intervenção do Prof. Valdano Manuel, cirurgião cardiovascular angolano, foi um exemplo de excelência africana ao lado da Prof.ª Sonia Alamowitch, da França.
A mesa defendeu educação comunitária, formação de base e reforço das infraestruturas sanitárias.
2. Saúde das mulheres: entre a vulnerabilidade e a resistência
A saúde reprodutiva continua a ser um campo de luta.
Especialistas denunciaram a escassez de meios, a marginalização dos direitos femininos e a violência obstétrica.
A Dra. Ghada Hatem e outros intervenientes defenderam políticas públicas inclusivas, educação sexual integral e acesso universal aos cuidados de saúde para mulheres, mães e meninas.
3. Combate à falsificação de medicamentos: uma guerra silenciosa
A presença de medicamentos falsificados em mercados africanos representa uma ameaça direta à vida de milhares de pessoas.
Nesta mesa, foram discutidas soluções legislativas, mecanismos de rastreio, parcerias de vigilância farmacêutica e a importância da cooperação entre órgãos reguladores, alfândegas e ONGs de saúde pública.
4. Financiamento da inovação em saúde: uma questão de justiça social
Inovar exige recursos. Mas também exige transparência, equidade e visão estratégica.
O debate abordou modelos de financiamento inclusivo, o papel das startups africanas no setor da saúde, e as alianças sustentáveis entre setores público e privado.

Uma voz africana comprometida com soluções reais
A minha intervenção não foi apenas representativa. Foi também testemunhal e propositiva.
Como jornalista e ativista social, insisti que não basta transferir políticas do Norte para o Sul, sem escutar as realidades locais.
A África precisa de políticas feitas com ela, não apenas para ela.
Denunciei as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da comunicação na cobertura de temas ligados à saúde muitas vezes sem dados, sem transparência institucional e sob pressão política.
Defendi a formação continuada de jornalistas, o acesso à informação científica e o fortalecimento de redes independentes de imprensa sanitária.
Testemunhos de coragem e compromisso
Um dos momentos mais marcantes da cimeira foi o discurso da ex-ministra francesa Élisabeth Moreno, que apelou à construção de um novo paradigma sanitário, baseado na empatia, na inclusão e na coragem política.
A fundadora da Ndona Charity, Bibiana Daniel, emocionou a todos ao narrar a experiência pessoal que deu origem à cimeira, lembrando que a transformação começa com pequenas sementes de resistência, lançadas com amor e consciência.
Conclusão: saúde é soberania e dignidade
A Cimeira da Saúde Europa-África 2025 foi mais do que um evento institucional.
Foi um ato de soberania moral e de responsabilidade ética entre povos historicamente marcados por desequilíbrios.
Saúde não é privilégio é direito.
E direito sem acesso é uma mentira política.
Como jornalista independente, como embaixador nomeado a partir de Angola e como cidadão africano, reafirmo aqui o meu compromisso:
continuarei a construir pontes, denunciar silêncios e inspirar consciências.
Porque a saúde dos povos africanos não pode esperar.
E a dignidade dos nossos filhos exige que não nos calemos.