Uma nova etapa no xadrez político angolano
Angola aproxima-se de mais um ciclo eleitoral e, como é tradição em tempos de disputa política, as placas tectônicas do poder começam a se mover. Uma das movimentações mais notáveis foi a eleição oficial de Abel Chivukuvuku como presidente do partido Pra-Já Servir Angola, após anos de resistência política e batalhas judiciais para o reconhecimento da formação.
Com este ato, Chivukuvuku volta a ocupar formalmente o centro da cena política nacional, mas num novo papel: líder de um projeto próprio, longe das estruturas partidárias onde construiu sua trajetória inicial nomeadamente, a UNITA, onde foi um dos seus quadros mais respeitados no período pós-guerra, tendo desempenhado funções de grande responsabilidade e influência dentro do partido.
Um percurso de ruptura e persistência
Abel Chivukuvuku esteve vinculado à UNITA por mais de 30 anos, sendo uma das suas figuras de destaque em matéria de comunicação, diplomacia e articulação política. Após as eleições de 2008, passou a defender a necessidade de abertura política e renovação da oposição. Em 2012, liderou a criação da CASA-CE (Convergência Ampla de Salvação de Angola), uma coligação que obteve um desempenho expressivo nas eleições daquele ano, surgindo como a terceira força política nacional.
No entanto, desentendimentos internos levaram ao seu afastamento da coligação e, a partir daí, começou o processo de fundação do Pra-Já Servir Angola um partido que foi barrado repetidas vezes pelo Tribunal Constitucional, sob alegações de irregularidades no processo de legalização. Muitos viram nisso um bloqueio político institucionalizado.
Hoje, com o partido finalmente reconhecido, Chivukuvuku afirma-se com um discurso firme de alternativa, mas também de reconciliação nacional.
O discurso e o símbolo político
Em sua recente intervenção, o agora presidente do Pra-Já disse com firmeza:
O nosso compromisso é com o povo. Não somos a continuidade de ninguém. Somos a voz de uma Angola que quer justiça, trabalho e verdade.
Esse discurso procura destacar uma terceira via política, apresentando o Pra-Já como uma alternativa ao bipolarismo MPLA–UNITA, sem negar os valores históricos da oposição, mas propondo uma nova forma de engajamento democrático.
É também uma tentativa de se libertar da narrativa de que o partido seria apenas uma extensão frustrada de antigos projetos. Chivukuvuku aposta numa renovação ética da política e no resgate da confiança do eleitorado, sobretudo dos jovens.
Desafios estruturais e dilemas estratégicos
Apesar do simbolismo e do capital moral de Abel Chivukuvuku, o Pra-Já enfrenta obstáculos reais:
- Débil implantação territorial: o partido precisa construir estruturas provinciais sólidas em tempo recorde;
- Recursos limitados: sem acesso a fundos públicos, como os partidos com assento parlamentar, enfrenta dificuldades logísticas;
- Pressão de alianças: o campo opositor exige unidade, mas a independência do Pra-Já pode dificultar coligações com outras forças;
- Percepção pública: há ainda uma leitura entre parte do eleitorado de que o partido é um projeto personalizado.
A juventude como chave de viragem
Chivukuvuku parece compreender que a juventude angolana é o novo campo de batalha político. Os jovens, que enfrentam desemprego, falta de perspectivas e marginalização social, procuram líderes autênticos e compromissados.
Ao se apresentar como uma figura sem rabo preso, com um histórico limpo de corrupção, e com linguagem acessível, Chivukuvuku tenta posicionar-se como a escolha consciente da nova geração.
Conclusão: uma alternativa com memória e ambição
A eleição de Abel Chivukuvuku à presidência do Pra-Já Servir Angola não é apenas um momento de vitória pessoal. É um episódio simbólico da resistência democrática num país onde a alternância e a diversidade política ainda enfrentam entraves estruturais.
O seu sucesso dependerá da sua capacidade de:
- Reunir alianças sinceras e estratégicas;
- Construir confiança além do carisma;
- Apresentar um programa político sólido, realista e transformador.
Frase de encerramento:
A democracia não se constrói apenas com partidos. Constrói-se com coragem, memória e compromisso com o povo.
Sempa Sebastião