Introdução: o populismo não é uma ideologia, é um método
O populismo político não nasce necessariamente na oposição. Muitas vezes, ele se instala e se intensifica depois da conquista do poder. Certos dirigentes, após cativarem as massas com promessas revolucionárias, mergulham numa forma de governação emocional, onde o discurso, os gestos e as prioridades são ditados não por estratégias de Estado, mas pela busca constante de adesão popular.
Discursos populistas: entre a mentira útil e a verdade enfeitada
O populista no poder não governa para todos governa para um “povo abstrato” que ele afirma representar, frequentemente contra inimigos internos imaginários: elites, estrangeiros, intelectuais ou instituições independentes.
Observa-se então:
- Discursos simplificadores: “O povo tem sempre razão”, “Os inimigos da pátria estão entre nós”, e frases semelhantes.
- Uso excessivo dos meios de comunicação do Estado e das redes sociais, com o objetivo de construir um culto à personalidade.
- Decisões espetaculares, mais simbólicas do que estruturais, para manter a atenção do público e desviar o foco dos verdadeiros problemas.
Referências históricas e contemporâneas
Hugo Chávez (Venezuela): exemplo típico de populismo no poder, misturando nacionalismo, anti-imperialismo e centralização de poder.
Donald Trump (Estados Unidos): governou com tweets, confrontos e teorias conspiratórias, provocando uma divisão política duradoura.
Jair Bolsonaro (Brasil): confundiu liderança com provocação, pondo em risco a saúde pública em nome da “liberdade do povo”.
Alguns líderes africanos atuais: exploram o sofrimento popular, evocam complôs estrangeiros e se apresentam como únicos salvadores.
O perigo: instrumentalizar o povo contra a democracia
O maior risco do populismo no poder é a desvalorização das instituições democráticas. As decisões tornam-se arbitrárias, o diálogo é substituído pelo monólogo do líder, e qualquer voz crítica é tratada como traição.
O populismo enfraquece os pilares da democracia em nome do povo mas contra os verdadeiros interesses desse mesmo povo
Minha leitura pessoal: impõe-se uma vigilância panafricana
Como jornalista e analista africano, acredito que o continente deve aprender a desmascarar os populismos disfarçados de patriotismo. Os povos africanos precisam desconfiar de discursos excessivamente perfeitos, promessas milagrosas e, sobretudo, de líderes que rejeitam o contraditório e os mecanismos de controlo democrático.
Um bom líder não diz sempre o que o povo quer ouvir. Ele diz o que é justo mesmo que isso exija paciência e esforço coletivo.
Citação :
Quando a verdade se torna perigosa para o poder, a mentira vira estratégia de Estado.