fadas democrático. Antes de Bassirou Diomaye Faye chegar ao Palácio Presidencial, o país mergulhou numa das mais intensas crises políticas e sociais da sua história moderna. A repressão violenta contra manifestantes, o encarceramento de opositores, o adiamento das eleições e a tentativa clara de manipular o processo democrático colocaram o Senegal à beira do abismo.
Foi precisamente nessa encruzilhada que o povo senegalês decidiu fazer história. Organizado, combativo e corajoso, enfrentou o regime, desafiou o medo e impôs a mudança. A eleição de Diomaye Faye em março de 2024 não foi uma concessão do sistema foi uma conquista arrancada com suor, dor e sangue.
1. A repressão como resposta à contestação
Nos últimos anos de mandato de Macky Sall, o Senegal viveu uma escalada de repressão sistemática. O caso de Ousmane Sonko, líder do PASTEF, tornou-se símbolo da resistência: preso sob acusações amplamente contestadas, converteu-se numa bandeira de luta.
As cidades de Dakar, Ziguinchor, Thiès e Kaolack foram palco de manifestações massivas. A resposta do Estado foi brutal: gás lacrimogéneo, detenções arbitrárias, tiros reais. Jovens tombaram nas ruas, centenas foram feridos e milhares detidos. A internet foi cortada em momentos críticos, e os meios de comunicação independentes, perseguidos e silenciados.
Macky Sall tentou adiar indefinidamente as eleições de 2024, gerando uma crise institucional de alto risco. A pressão popular interna e a mobilização internacional foram decisivas para forçar o respeito ao calendário constitucional.
2. A emergência de Diomaye Faye e a força popular
Em meio ao caos, Bassirou Diomaye Faye, detido juntamente com Sonko, emergiu como o rosto da renovação. Libertado poucos dias antes das eleições, liderou a oposição com um programa centrado na justiça social, soberania econômica e dignidade nacional.
A sua vitória não foi apenas eleitoral foi histórica. Representou um grito coletivo de libertação, uma demonstração de maturidade política e de que a juventude africana, organizada e consciente, pode transformar o destino do continente.
3. Senegal e o contraste africano: caminhos distintos de resistência
Enquanto o povo senegalês escrevia uma nova página pela via democrática e institucional, outros povos africanos seguiram caminhos próprios de contestação ao sistema, marcados por rupturas, transições forçadas ou busca de soberania perante pressões internas e externas.
No Sudão, generais enfrentam-se em uma guerra destrutiva, mergulhando o país numa crise humanitária profunda.
No Mali, Níger e Burkina Faso, juntas militares assumiram o poder como resposta à insegurança generalizada e à influência estrangeira, sobretudo da França, tentando redefinir o destino das suas nações por vias não convencionais.
Na RDC, a disputa em torno da legitimidade eleitoral continua a alimentar tensões políticas e sociais.
Em países como os Camarões e a Guiné Equatorial, a alternância democrática ainda enfrenta resistências profundas.
Em Angola, o atual presidente exerce o seu segundo mandato constitucional, num processo democrático que o povo acompanha com expectativa crítica e vigilante quanto ao futuro.
Cada país vive realidades distintas. Mas o denominador comum continua sendo o mesmo: a necessidade de construir soberanias genuínas, instituições ao serviço dos cidadãos e Estados que respondam à dignidade do seu povo.
4. Um sinal claro para a juventude africana
A juventude senegalesa armada com consciência, redes sociais e coragem provou que é possível derrubar estruturas opressoras sem recorrer às armas. Muitos pagaram com a vida. Mas deixaram uma mensagem que ecoará por gerações:
> “A liberdade é filha da resistência, não da concessão.”
Não foi Macky Sall quem permitiu a alternância. Foi o povo quem a impôs.
Que o exemplo do Senegal inspire outros povos do continente a se erguerem com dignidade, não apenas contra a opressão, mas também pela construção de instituições sólidas, representativas e africanas por essência.
Porque a verdadeira soberania não se herda: constrói-se com coragem, memória e participação.
Citação
“A África não precisa de tutores, precisa de filhos corajosos que saibam que a justiça não se mendiga — se conquista.”
Sempa Sebastião