14Mai

Na Angola profunda que muitos insistem em não ver, há uma guerra silenciosa travada todos os dias. É uma guerra sem armas, mas com dor. Uma guerra onde as vítimas não aparecem nas manchetes, mas carregam o país nas costas. Essa guerra é vivida pelas mamás zungueiras mulheres que lutam, sofrem, resistem.

Essas mulheres não vendem apenas produtos. Elas vendem esperança. Acordam antes do sol, caminham longas distâncias com bacias pesadas sobre a cabeça e, mesmo diante da incerteza, voltam para casa com algo para alimentar os filhos. Muitas vezes, elas são o único sustento do lar. Em milhares de casas angolanas, os pais estão desempregados ou ganham salários tão baixos que mal cobrem o transporte.

São elas que pagam a renda, a propina escolar, o saco de arroz, os medicamentos. Fazem o papel do Estado, do provedor e da resistência. Mas, infelizmente, em Angola, o trabalho informal virou crime. E a luta dessas mulheres tem sido castigada pelas próprias autoridades que deviam protegê-las.

Agressões, confisco de mercadorias, detenções arbitrárias, humilhações públicas. Essas são cenas que se repetem diariamente em mercados, praças e paragens. Jovens agentes da polícia muitos filhos de zungueiras espalham as mercadorias com brutalidade, como se combater a pobreza fosse uma missão de segurança nacional.

O caso de Tomásia Nguera, em março de 2021, no mercado dos Congoleses, é emblemático. Esta vendedora perdeu a vida ao tentar salvar os seus produtos durante uma ação fiscal. Caiu, bateu com a cabeça e não resistiu. A sua morte abalou a comunidade, mas nenhuma responsabilização firme foi apresentada. O silêncio das autoridades foi mais violento que o empurrão que a matou.

A resposta do Estado tem sido a construção de novos mercados. Mas muitos desses espaços não oferecem condições dignas: sem casas de banho funcionais, sem água potável, sem segurança, sem clientela fixa e com taxas pesadas. O que seria uma solução, tornou-se um novo obstáculo. As zungueiras voltam às ruas não por escolha, mas por sobrevivência.

E o mais grave: não há escuta. Não há diálogo entre quem governa e quem sobrevive. As políticas são feitas no topo, sem consultar quem está na base. Essa desconexão é o retrato de um país que ainda não entendeu que governar é, antes de tudo, proteger.

Esta reflexão é um grito. Um apelo. Uma denúncia.

Apelamos ao Estado angolano:

  • Crie um programa sério de apoio à economia informal;
  • Forme os fiscais e agentes da ordem para atuarem com humanidade;
  • Isente as zungueiras mais vulneráveis de taxas insustentáveis;
  • Ofereça condições reais nos mercados municipais.

Implemente espaços de diálogo com associações de zungueiras e líderes comunitários.

As mamás zungueiras são um espelho da resistência feminina em Angola. Desprezá-las é trair o povo. Ignorá-las é negar o próprio futuro. A construção de uma Angola justa começa com o respeito pela mulher que vende para viver, não com a repressão.

Elas não são o problema. São parte da solução.

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