14Mai

A eleição da nova presidente da Namíbia, Nangolo Mbumba, marca um ponto de viragem não apenas para o país, mas para a região da África Austral. Com o falecimento do ex-presidente Hage Geingob em fevereiro de 2024, Mbumba então vice-presidente assumiu o cargo interinamente até às eleições gerais. Agora, como presidente eleita, carrega a responsabilidade de consolidar um legado e, ao mesmo tempo, inaugurar uma nova visão para o país.

Comparação de estilos: continuidade ou ruptura?

Hage Geingob (2015–2024) foi um estadista respeitado, sobretudo pela sua defesa da boa governança, da liberdade de imprensa e do combate à pobreza. No entanto, seu governo também enfrentou desafios sérios:

  • Taxa de desemprego juvenil acima de 40%;
  • Corrupção em altas esferas (caso “Fishrot” envolvendo ministros e empresas de pesca);
  • Crescimento econômico estagnado, fortemente dependente do setor mineiro e da ajuda externa.

Nangolo Mbumba, embora próximo politicamente de Geingob e membro da SWAPO, tem dado sinais de querer imprimir um novo estilo. Nas primeiras declarações oficiais, destacou:

  • A urgência em diversificar a economia;
  • Um foco renovado na juventude e na formação técnica;
  • Maior firmeza na defesa dos recursos naturais da Namíbia, especialmente diante de interesses estrangeiros no petróleo e hidrogênio verde.

Se por um lado há um discurso de continuidade, por outro lado há indicações claras de que a presidente quer um país mais soberano economicamente, mais ativo regionalmente e mais justo socialmente.

Os desafios reais da próxima década

A Namíbia enfrenta uma série de desafios estruturais que exigem mais do que reformas superficiais. Entre os mais críticos estão:

1. Dependência de setores extrativos: diamantes, urânio e, mais recentemente, petróleo. A economia permanece vulnerável à oscilação dos preços internacionais.

2. Mudanças climáticas e escassez hídrica: A Namíbia é um dos países mais áridos do continente. O avanço da desertificação ameaça a agricultura e a segurança alimentar.

3. Pressão demográfica urbana: Jovens cada vez mais urbanos e exigentes pressionam por empregos, habitação, e inclusão.

4. Influência geoestratégica estrangeira: A crescente presença da China, Rússia e até dos EUA no setor energético coloca em risco a soberania decisional do país. A nova presidente terá que equilibrar parcerias com firmeza estratégica.

Sinais promissores da nova liderança

Reestruturação ministerial para incluir mais jovens e mulheres;

Revisão de contratos de exploração de recursos naturais assinados nos últimos dez anos;

Plano nacional para ensino técnico e empreendedorismo rural;

Envolvimento mais ativo na SADC e na diplomacia pan-africana.

Esses gestos indicam uma liderança que entende o novo tempo, mas a sua eficácia dependerá da capacidade de enfrentar as pressões internas da própria SWAPO e de forças econômicas externas que resistem à mudança.

Uma década decisiva para a Namíbia

Os próximos dez anos serão cruciais para redefinir o lugar da Namíbia na África e no mundo. Com a possibilidade de se tornar um novo centro energético graças ao hidrogênio verde e à exploração offshore de petróleo, o país poderá dar um salto significativo. Mas sem uma governação ética, estratégica e profundamente popular, poderá repetir a maldição da abundância: riqueza sem desenvolvimento humano.

Reflexão final

A África observa a Namíbia com esperança. O continente precisa de lideranças que combinem firmeza, humildade, inovação e coragem. A nova presidente tem nas mãos uma rara oportunidade de reescrever o futuro do seu povo não como gestora de um legado, mas como arquiteta de uma nova soberania.

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