Desde os tempos coloniais, Angola carrega cicatrizes de lutas, resistência e esperança. O domínio português durante séculos não apenas explorou os recursos naturais do país, mas sobretudo feriu a dignidade de um povo que, apesar da opressão, nunca se rendeu. A escravidão, a segregação e a exploração forçaram os angolanos a empunhar a liberdade como bandeira, mesmo que ao custo da própria vida.
Com a proclamação da independência a 11 de novembro de 1975, liderada por Agostinho Neto, Angola encontrou um novo rumo. Neto, poeta e combatente, tornou-se o símbolo da luta pela libertação, mas sua governação foi marcada por conflitos internos, sobretudo com a UNITA de Jonas Savimbi, que rejeitava o monopólio do poder pelo MPLA. A guerra civil que se seguiu devastou o país por décadas, com milhões de vidas perdidas e uma economia destruída.
Após a morte de Neto, José Eduardo dos Santos assumiu o poder, permanecendo por 38 anos. Seu governo foi caracterizado por estabilidade militar e reconstrução, mas também por denúncias de corrupção, nepotismo e enriquecimento ilícito de uma elite ligada ao poder. A paz formal chegou em 2002 com a morte de Savimbi, mas a paz social e económica ainda está por se construir.
Hoje, sob a liderança de João Lourenço, o país busca reerguer-se. A luta contra a corrupção foi o marco inicial do seu mandato, com processos contra figuras históricas do regime anterior. No entanto, a promessa de mudança continua a tropeçar em práticas antigas: perseguições políticas, repressão à liberdade de expressão, controlo sobre os meios de comunicação e uma juventude cada vez mais desencantada.
Estamos às vésperas de novas eleições, e o povo angolano continua à procura de um verdadeiro projeto de nação. Os jovens, muitos dos quais não viveram a guerra, exigem oportunidades reais, liberdade de expressão e uma Angola onde o mérito supere o compadrio.
Casos como o desaparecimento de ativistas, a censura de jornalistas, a violência policial em manifestações pacíficas e a ausência de justiça social demonstram que a democracia em Angola é ainda um projeto inacabado. O fosso entre ricos e pobres cresce, enquanto os recursos continuam a beneficiar uma minoria.
Esta reflexão não visa atacar partidos, mas despertar consciências. Angola precisa de um novo contrato social, onde o povo seja, de fato, o soberano. Onde os líderes governem com ética, responsabilidade e escutem o grito silencioso das ruas.
A minha mensagem é clara: não podemos falar de futuro ignorando o passado e silenciando o presente. Que as próximas eleições não sejam apenas uma formalidade, mas uma escolha consciente de um povo que se recusa a continuar prisioneiro da história.