11Mai

A 11 de novembro de 2025, Angola completa cinquenta anos de independência. Meio século. Um marco que impõe silêncio e reflexão. E mais do que celebrar, é preciso interrogar. O que fizemos, de verdade, com o sacrifício dos que tombaram? Que uso demos ao sangue derramado, às vidas doadas, aos sonhos partilhados por gerações que enfrentaram as armas com catanas e coragem?

Lembramos a Baixa de Cassanje, os trilhos das matas do Moxico, os longos combates no Huambo, os gritos abafados em Luanda, os rostos esquecidos de combatentes anônimos. Lembramos os estudantes que sonhavam com um país justo, os camponeses que sustentaram a luta com o pouco que tinham, os velhos que nunca viram a paz pela qual lutaram.

A história de Angola é feita de entrega. Mas também de desvios. Caminhos que não eram inevitáveis, mas foram tomados. Anos de guerra entre irmãos. Promessas adiadas. Esperanças traídas.

Hoje, cinquenta anos depois, o país continua a ser construído. Mas com que tijolos? Com que projeto? Com que visão?

A juventude, que deveria ser a espinha dorsal da reconstrução, emigra. Emigra porque perdeu a confiança. Porque não encontra espaço, nem oportunidades, nem futuro. Fogem do próprio solo, não porque querem, mas porque não veem alternativa. Isso é mais do que um fracasso. É uma ferida aberta.

Mas ainda há tempo. E esse tempo chama-se agora. Agora é o momento de reconstruir o pacto nacional. Precisamos de união – de Cabinda ao Cunene, do Zaire ao Cuando Cubango. Angola é uma só, e nela cabem todas as vozes, todos os rostos, todas as culturas.

Precisamos de líderes que saibam governar para todos. Precisamos de uma juventude que pense com a própria cabeça. Precisamos de uma sociedade civil que se imponha com firmeza e responsabilidade. Precisamos de uma imprensa livre, de igrejas corajosas, de cidadãos atentos. Não há futuro possível com líderes ausentes, nem com jovens alienados.

O tempo dos discursos inflamados e populistas terminou. Angola não precisa mais de salvadores da pátria, mas de servidores da pátria. O país não pode mais ser governado com emoção, mas com razão, ética e compromisso.

Este é um apelo à consciência de todos. Às mães que choram seus filhos. Aos professores que continuam a formar com sacrifício. Aos agricultores que alimentam a pátria com suor. Aos médicos que salvam vidas mesmo sem condições. Aos soldados que guardam a paz. Aos jovens que sonham, mesmo quando tudo parece desabar.

Angola merece mais. E pode mais. Mas só conseguiremos avançar se cada angolano assumir o seu papel com responsabilidade. Que os 50 anos de independência não sejam apenas uma cerimônia, mas um novo começo. Uma Angola onde a memória nos oriente e o futuro nos inspire.

Independência não é só história. É compromisso. É escolha. É coragem.