07Mai

A República Democrática do Congo é uma terra de abundância. Abundância de minerais, de rios, de terras férteis, de culturas e de povos. Mas também se tornou, tristemente, terra de luto, de promessas não cumpridas, e de líderes que falharam à história.

Desde a independência em 1960, o país nunca teve um momento verdadeiro de estabilidade e soberania popular. De Joseph Kasa-Vubu a Félix Tshisekedi, passando por Mobutu, Laurent-Désiré Kabila e Joseph Kabila, o poder no Congo sempre serviu aos homens – nunca ao povo.

Mobutu consolidou o seu reinado à custa da democracia, da repressão e do saque das riquezas. Transformou o Zaire num império pessoal, onde o patriotismo se vestia de discursos, mas se alimentava da pilhagem do tesouro nacional. Quando foi derrubado, o povo clamava por mudança. Mas o que veio em seguida?

Laurent-Désiré Kabila, apoiado por interesses externos, chegou com promessas de libertação. Foi morto. Seu filho, Joseph Kabila, ficou no poder durante 17 anos. Tempo suficiente para restaurar o país. Mas o que vimos foi a continuação do abandono. O Leste do país tornou-se um inferno contínuo. Rebeliões, massacres, violações, tráfico de coltan e ouro, tudo sob os olhos de um Estado ausente.

Mais de 6 milhões de mortos. Sim, o Congo vive o maior genocídio não declarado do século XXI. E o mundo assiste em silêncio. Mais de 130 grupos armados ainda operam livremente nas províncias

do Kivu e Ituri. Crianças são recrutadas à força. Mulheres são estupradas como tática de guerra. E onde está o Estado? Onde está o governo?

O povo grita. A juventude emigra. Os campos estão abandonados. Mas os ministros e generais, os mesmos que dizem amar a pátria, dividem milhões em contratos fictícios, partilham orçamentos como se fossem um banquete de elite. As denúncias existem. As provas circulam. Os jornais relatam. Mas nada acontece.

A nós, observadores, jornalistas e filhos do continente, resta a indignação. A dor de ver um país tão grande ser reduzido à miséria. A tristeza de ver líderes que, em vez de construir o futuro, perpetuam o caos.

Estamos a assistir a uma traição nacional – cometida por quem deveria proteger o povo.

E a juventude? Sem emprego. Sem educação. Sem esperança. Milhares fogem em direção a países que os humilham. Outros entram em grupos armados por desespero. Muitos desistem do próprio país. Isso não é normal. Isso não é destino. Isso é o reflexo direto de uma elite política que perdeu a vergonha e a moral.

Mas o povo congolês não é fraco. É um povo que já resistiu ao colonialismo, ao neocolonialismo, e à exploração brutal. É um povo com memória, com identidade, com força.

Por isso, deixo aqui um apelo à juventude, aos estudantes, aos trabalhadores, aos jornalistas, aos patriotas:

O Congo não pode ser entregue à impunidade. A história deve cobrar. A juventude deve levantar-se. Os corruptos devem ser confrontados. Os mentirosos desmascarados. O silêncio é o maior cúmplice da desgraça.

“A pior guerra do Congo não é a do Leste. É a guerra da mentira, da corrupção e da indiferença dos que governam. E essa guerra só será vencida com consciência, coragem e verdade.”
Sempa Sebastião