07Mai

Fazer jornalismo em África nunca foi uma missão neutra. Desde os tempos coloniais até os regimes pós-independência, a imprensa sempre caminhou entre a vigilância e a resistência, entre a censura e a coragem. E hoje, num continente ainda marcado por desigualdades, manipulações políticas e fragilidades institucionais, o jornalismo engajado torna-se não apenas necessário, mas vital.

Jornalismo engajado não é militância partidária. É compromisso com a verdade. É recusar o silêncio diante da injustiça. É estar do lado do povo – não como palanque de emoções, mas como farol de lucidez. Informar, em África, não é apenas relatar os fatos. É iluminar consciências. É provocar pensamento. É defender a dignidade.

Países como Burkina Faso, Senegal, África do Sul e até o Gana mostraram que a imprensa livre pode ser catalisadora de mudanças profundas. Onde o jornalismo atua com coragem, a democracia respira. Onde o jornalista é respeitado, o povo é ouvido. Onde a imprensa é engajada, os corruptos se inquietam. O jornalismo é, sim, o Quinto Poder – o poder que vigia os outros, o poder que questiona, o poder que acorda a sociedade.

Jornalistas não são membros de partidos. O nosso partido é o jornalismo. É essa independência que garante a credibilidade da nossa profissão. E é essa independência que hoje está em risco – sobretudo nos meios públicos, onde muitos colegas se veem amarrados pelo medo, pela obediência cega ou pela autocensura.

Aos meus irmãos e irmãs da imprensa estatal angolana: o silêncio pode proteger o salário, mas

mata a missão. Ser jornalista não é repetir o que se quer ouvir. É dizer o que precisa ser dito, com ética, responsabilidade e coragem. Sempre há uma forma de fazer jornalismo com verdade, mesmo dentro das limitações. Não deixem que o medo enterre o vosso papel.

Precisamos de uma imprensa que investigue, que denuncie, que proponha. Que vá aos bairros, às aldeias, aos tribunais, às escolas, aos mercados. Precisamos de jornalistas que se levantem quando todos se ajoelham. Que se guiem pela consciência e não por agendas. Que não vendam a sua caneta por aplausos ou favores.

Em muitos países, ser jornalista é um risco. Mas esse risco é a prova do impacto. Porque onde há medo do jornalista, há algo a esconder. E onde há jornalistas livres, há povo desperto. O jornalismo engajado não é um luxo. É uma urgência.

Escrevo esta tribuna como jornalista e como africano. Como alguém que acredita que a construção de um continente forte passa pela liberdade de expressão, pela coragem de informar, pelo compromisso de esclarecer. O jornalismo é mais do que uma profissão. É uma missão.

A África – e Angola – não precisa de jornalistas famosos. Precisa de jornalistas comprometidos. Jornalistas que sejam ponte entre o povo e o poder. Jornalistas que não tenham medo de errar, mas que se recusem a calar.

Se quisermos uma Angola justa, consciente e livre, devemos começar por fortalecer a imprensa. E fortalecer a imprensa é devolver-lhe a sua essência: servir ao povo com verdade e coragem.